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Capacitismo e Autismo: Quando a Inclusão Vai Além do Discurso

Por Esdras Dantas de Souza, presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA)

Abril é o mês em que o mundo se veste de azul para lembrar que o autismo existe — mas é também o momento de refletirmos sobre como a sociedade ainda trata as pessoas autistas. E, nesse contexto, precisamos falar sobre uma palavra que pode parecer complexa, mas que infelizmente está presente no cotidiano de muitas famílias: o capacitismo.

O que é capacitismo?

Capacitismo é o preconceito contra pessoas com deficiência. É o olhar atravessado, o rótulo de “incapaz”, a exclusão sutil (ou nem tão sutil assim) de quem vive fora do padrão considerado “normal”.

Quando falamos de capacitismo em relação aos autistas, falamos de atitudes que desvalorizam, silenciam ou anulam a autonomia, a inteligência e a identidade das pessoas no espectro autista.

E o mais alarmante? Muitas vezes, esse preconceito vem de onde menos se espera: escolas, ambientes de trabalho, serviços de saúde e até dentro de casa.

Exemplos do dia a dia

  • Um adolescente autista que fala de maneira diferente é impedido de se apresentar em público porque “não vai dar certo”.
  • Uma criança é tratada como se não entendesse nada, mesmo demonstrando seus próprios modos de expressão.
  • Um adulto autista é desconsiderado numa reunião familiar porque “os outros sabem o que é melhor pra ele”.
  • Um profissional competente não é contratado porque “vai dar trabalho”.

Essas situações acontecem todos os dias, e têm nome: capacitismo.

O mito do “coitado” e o mito do “gênio”

Outro ponto importante: o capacitismo também aparece nos extremos. Quando uma pessoa autista é vista ou como um fardo, alguém que não tem valor produtivo, ou como um gênio superdotado que deve se destacar acima da média para ser respeitado. Ambos os extremos são injustos. Autistas são, antes de tudo, pessoas — com talentos, dificuldades, vontades e sonhos.

A importância da escuta e do respeito

Mais do que nunca, precisamos ouvir as pessoas autistas. Dar voz a quem vive essa realidade. Respeitar seus modos de ser, seus limites e suas potencialidades. A inclusão verdadeira não é sobre encaixar a pessoa autista num modelo social — é sobre adaptar a sociedade para acolher a neurodiversidade.

O que podemos fazer?

  • Substituir o julgamento pela escuta.
  • Parar de falar por autistas e começar a falar com eles.
  • Questionar práticas excludentes em escolas, empresas e instituições.
  • Promover ambientes em que cada pessoa possa se expressar sem medo de ser quem é.

Neste abril, vamos além da cor azul

Abril é um convite. Um lembrete de que o autismo existe o ano inteiro, e que a luta contra o capacitismo não pode ser sazonal. Que possamos usar esse mês não apenas para celebrar, mas para transformar. Não há inclusão verdadeira sem respeito, e não há respeito sem reconhecer o direito de cada pessoa autista ser, sentir e viver do seu jeito.

 

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