O Instituto da Ingratidão no Processo Eleitoral da OAB: Como os Advogados Podem Convivê-lo
Por Esdras Dantas
O processo eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é um dos momentos mais importantes para a advocacia nacional. É quando a classe decide quem serão os seus representantes nas diferentes esferas da Ordem, responsáveis por lutar pelos direitos dos advogados, assegurar prerrogativas e zelar pela ética profissional. No entanto, esse processo, que deveria ser um exercício de união e fortalecimento da classe, muitas vezes revela o fenômeno da ingratidão.
A Ingratidão no Contexto Eleitoral da OAB
A ingratidão é um sentimento que pode surgir em vários momentos da carreira de um advogado, mas se torna particularmente presente durante as eleições da OAB. Aqueles que se candidatam a cargos de direção ou de presidência da Ordem muitas vezes se dedicam anos à advocacia e à instituição, trabalhando arduamente para melhorar a vida dos colegas de profissão. No entanto, durante o processo eleitoral, não é incomum que esses mesmos advogados enfrentem críticas, falta de reconhecimento por parte de seus pares, e até mesmo traições políticas.
Candidatos que já ocuparam posições de liderança na OAB ou que desejam participar da Ordem, podem sentir o impacto da ingratidão quando percebem que seus esforços são desconsiderados, e que o reconhecimento esperado não se materializa. Muitas vezes, promessas de apoio feitas anteriormente não são cumpridas, e a lealdade que se esperava de colegas se desfaz diante das disputas eleitorais.
Como os Advogados Podem Conviver com a Ingratidão Durante as Eleições da OAB
Conviver com a ingratidão, especialmente em um ambiente tão desafiador quanto o das eleições da OAB, exige maturidade emocional e estratégias práticas para não se deixar abalar por esse sentimento. Aqui estão algumas formas de lidar com a ingratidão no contexto do processo eleitoral da OAB:
- Foco no Propósito e na Missão: Assim como no exercício da advocacia, o foco principal de qualquer candidato ou líder da OAB deve ser o propósito de sua candidatura. Quando o advogado está ciente de que sua missão é melhorar a vida da classe, a ingratidão ou a falta de reconhecimento se tornam secundárias. É importante lembrar que o trabalho desenvolvido tem um impacto de longo prazo, mesmo que a gratidão nem sempre seja imediata ou visível.
- Estabelecer Expectativas Realistas: O processo eleitoral é carregado de emoções e, muitas vezes, alianças políticas são feitas e desfeitas rapidamente. Candidatos devem estar preparados para lidar com a volatilidade do apoio e para compreender que, em muitos casos, o reconhecimento não virá da maneira esperada. Ter expectativas realistas sobre o comportamento dos colegas e sobre a dinâmica política pode ajudar a reduzir o impacto da ingratidão.
- Desenvolver Resiliência Emocional: As eleições da OAB podem ser desgastantes em vários aspectos, e a ingratidão é apenas um dos desafios emocionais enfrentados pelos candidatos. Por isso, a capacidade de desenvolver resiliência emocional é fundamental. Candidatos e líderes da OAB precisam aprender a lidar com decepções sem se deixar abater, mantendo o foco no que realmente importa: a advocacia e a luta pelos direitos da classe.
- Valorizar as Relações Verdadeiras: Embora a ingratidão seja uma realidade no processo eleitoral, é importante que os advogados valorizem as relações verdadeiras que constroem ao longo da carreira. Nem todos os colegas demonstrarão ingratidão, e muitos irão apoiar e reconhecer o trabalho feito. Focar nas relações baseadas em respeito e confiança pode servir como um alicerce emocional durante as eleições.
- Manter a Integridade Acima de Tudo: Durante as eleições, é comum que os candidatos enfrentem não apenas ingratidão, mas também críticas infundadas e pressões externas. Em momentos como esses, a integridade se torna a maior defesa de um advogado. Manter-se fiel aos próprios valores e agir com ética é o melhor caminho para enfrentar os desafios, independentemente do reconhecimento externo.
Ingratidão como Parte do Processo Político
O processo eleitoral da OAB, assim como qualquer outro processo eleitoral, pode trazer à tona o pior e o melhor de uma classe profissional. Os candidatos que se dispõem a liderar e a representar a advocacia enfrentam não apenas o desafio de conquistar votos, mas também o desgaste emocional de lidar com a ingratidão e a falta de reconhecimento.
No entanto, é importante lembrar que a ingratidão faz parte da dinâmica de qualquer processo político. Nem sempre o trabalho dedicado será apreciado por todos, e nem sempre as conquistas alcançadas em mandatos anteriores serão lembradas. O fundamental é que os advogados que se candidatam às posições de liderança na OAB estejam preparados para enfrentar essas dificuldades, mantendo-se firmes em sua missão de fortalecer a advocacia e defender os interesses da classe.
Conclusão
A ingratidão no processo eleitoral da OAB é um fenômeno que pode afetar até os advogados mais experientes e bem-intencionados. No entanto, aqueles que escolhem liderar a advocacia devem aprender a conviver com esse sentimento e a não permitir que ele comprometa seu propósito. Manter o foco na missão de melhorar a vida dos advogados, cultivar resiliência emocional e valorizar as relações verdadeiras são formas eficazes de lidar com a ingratidão.
No final das contas, o sucesso nas eleições da OAB não depende apenas dos votos conquistados, mas da capacidade de manter a integridade, o respeito pelos colegas e a paixão pela advocacia. Afinal, o reconhecimento verdadeiro vem de quem compreende o valor de um trabalho bem feito e da dedicação incansável à classe.
Esdras Dantas é advogado, professor de Direito, membro nato da OAB/DF (ex-presidente), foi Diretor do Conselho Federal da OAB e atualmente é presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA)