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Quando o silêncio do Natal pesa: a saúde mental na advocacia

Por Esdras Dantas de Souza

O período de recesso forense costuma ser associado ao descanso, às confraternizações e às celebrações de fim de ano. No entanto, para muitos advogados e advogadas, o Natal e o Ano Novo não chegam como alívio, mas como um espelho silencioso de ausências, cansaço acumulado e desafios emocionais que se intensificam nesse momento.

A advocacia é uma das profissões mais exigentes do ponto de vista emocional. Pressão constante por resultados, responsabilidades que afetam diretamente a vida de terceiros, instabilidade financeira em muitos casos e pouca margem para demonstrar fragilidade criam um cenário em que o sofrimento é frequentemente silenciado.

Durante o ano, o trabalho intenso funciona como anestesia. No recesso, quando o ritmo desacelera, sentimentos que estavam represados emergem com força. Solidão, frustrações pessoais, rupturas familiares e a sensação de desorientação profissional tornam-se mais evidentes.

Nesse contexto, falar de saúde mental na advocacia não é fragilidade — é responsabilidade institucional. Reconhecer que nem todos vivem esse período com alegria é um passo importante para construir uma profissão mais humana, sustentável e ética.

O recesso não precisa ser um tempo de euforia forçada. Pode — e deve — ser um espaço legítimo de pausa, reflexão e cuidado. Instituições que compreendem isso ajudam a reduzir o isolamento emocional e reforçam o sentimento de pertencimento, tão essencial para a dignidade profissional.

Cuidar da saúde mental dos advogados é cuidar da própria advocacia. E esse cuidado começa, muitas vezes, no simples gesto de reconhecer que está tudo bem não estar bem o tempo todo.

Esdras Dantas de Souza é advogado, professor e presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA) www.abanacional.com.br – www.aba.adv.br

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