
O período de recesso forense costuma ser associado ao descanso, às confraternizações e às celebrações de fim de ano. No entanto, para muitos advogados e advogadas, o Natal e o Ano Novo não chegam como alívio, mas como um espelho silencioso de ausências, cansaço acumulado e desafios emocionais que se intensificam nesse momento.
A advocacia é uma das profissões mais exigentes do ponto de vista emocional. Pressão constante por resultados, responsabilidades que afetam diretamente a vida de terceiros, instabilidade financeira em muitos casos e pouca margem para demonstrar fragilidade criam um cenário em que o sofrimento é frequentemente silenciado.
Durante o ano, o trabalho intenso funciona como anestesia. No recesso, quando o ritmo desacelera, sentimentos que estavam represados emergem com força. Solidão, frustrações pessoais, rupturas familiares e a sensação de desorientação profissional tornam-se mais evidentes.
Nesse contexto, falar de saúde mental na advocacia não é fragilidade — é responsabilidade institucional. Reconhecer que nem todos vivem esse período com alegria é um passo importante para construir uma profissão mais humana, sustentável e ética.
O recesso não precisa ser um tempo de euforia forçada. Pode — e deve — ser um espaço legítimo de pausa, reflexão e cuidado. Instituições que compreendem isso ajudam a reduzir o isolamento emocional e reforçam o sentimento de pertencimento, tão essencial para a dignidade profissional.
Cuidar da saúde mental dos advogados é cuidar da própria advocacia. E esse cuidado começa, muitas vezes, no simples gesto de reconhecer que está tudo bem não estar bem o tempo todo.
Esdras Dantas de Souza é advogado, professor e presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA) www.abanacional.com.br – www.aba.adv.br



