Os Poderes da República estão contaminados por organizações criminosas no Brasil?
Por Dante Navarro

Essa pergunta, incômoda e perturbadora, ecoa cada vez mais nas rodas de conversa, nas universidades, nos plenários e, sobretudo, na mente dos cidadãos brasileiros. Seria possível que as instituições da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – estejam, de alguma forma, permeadas, influenciadas ou até capturadas por organizações criminosas?
A indagação não surge ao acaso. Escândalos recentes envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, milícias, narcotráfico e fraudes em licitações apontam que o crime organizado, em suas várias roupagens, já não se restringe às periferias ou aos becos escuros do submundo. Ele veste terno, ocupa gabinetes e, em alguns casos, influencia decisões de impacto nacional.
Especialistas em direito, segurança pública e ciência política alertam que o avanço das organizações criminosas sobre o Estado brasileiro não é um fenômeno isolado. Trata-se de um processo silencioso, progressivo e altamente sofisticado. Não se limita mais a corromper agentes públicos individuais; mira na captura de partes inteiras das estruturas de poder. É a chamada “criminalidade institucionalizada”.
No Executivo, surgem denúncias que vão desde contratos fraudulentos até alianças veladas com milícias e redes de corrupção. No Legislativo, investigações apontam para parlamentares financiados direta ou indiretamente por interesses criminosos, seja por meio de caixa dois, seja por pressões econômicas e territoriais. No Judiciário, embora majoritariamente íntegro, casos isolados de venda de sentenças, favorecimentos e até infiltrações levantam questionamentos sobre os mecanismos de controle e blindagem institucional.
A situação exige um debate maduro: até que ponto as instituições brasileiras estão fortalecidas para resistir a essas ameaças? E mais: como garantir que o Estado não seja cooptado pelo próprio crime que deveria combater?
Há quem defenda que as operações de combate à corrupção, como a Lava Jato, apesar de seus erros e excessos, revelaram um retrato preocupante: a promiscuidade entre política, poder econômico e crime organizado. Outros alertam que o desmantelamento de operações de controle, a fragilização dos órgãos de fiscalização e as perseguições institucionais a agentes públicos comprometidos agravam ainda mais esse quadro.
Por outro lado, é fundamental reconhecer que há milhares de servidores públicos, juízes, parlamentares, policiais e agentes do Ministério Público que seguem atuando com ética, coragem e compromisso. A generalização seria não apenas injusta, mas perigosa, pois serve aos próprios interesses de quem aposta no descrédito das instituições para enfraquecê-las.
No entanto, o sinal de alerta está aceso. O combate às organizações criminosas, sobretudo aquelas de colarinho branco, exige mais do que operações espetaculares ou discursos inflamados. Exige reforma estrutural, transparência radical, fortalecimento dos órgãos de controle, proteção a agentes públicos e, sobretudo, uma sociedade civil vigilante, ativa e intransigente com qualquer forma de corrupção e crime institucionalizado.
A pergunta segue no ar, desconfortável e necessária: os poderes da República estão contaminados? A resposta, talvez, esteja menos nas manchetes e mais na capacidade do próprio povo brasileiro de exigir, cobrar e reconstruir um Estado verdadeiramente a serviço da sociedade – e não dos interesses do crime, seja ele qual for.