A liderança na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é uma das funções mais prestigiosas e desafiadoras que um advogado ou advogada pode almejar. Ser eleito ou nomeado para um cargo de liderança dentro da OAB não só representa o reconhecimento profissional, mas também a responsabilidade de zelar pelos interesses da classe, proteger as prerrogativas da advocacia e contribuir para o aprimoramento do sistema de justiça no Brasil. No entanto, essa trajetória de ascensão apresenta inúmeros desafios, tanto pessoais quanto profissionais.
1. Construção de uma Reputação Ética e Sólida
Para se tornar um líder na OAB, é imprescindível que o advogado ou a advogada tenha uma trajetória ética e irrepreensível. A reputação é um dos pilares da advocacia, e na OAB, isso é ainda mais fundamental. O respeito dos pares, a confiança dos colegas e a credibilidade perante a classe jurídica são resultados de anos de dedicação, responsabilidade e compromisso com a ética profissional.
Muitos advogados encontram desafios ao lidar com questões éticas ao longo de suas carreiras. Desde a administração de conflitos de interesse até a pressão para obter resultados rápidos, os obstáculos éticos podem surgir a qualquer momento. Para se posicionar como líder, é fundamental que o advogado ou advogada mantenha sua integridade intacta, respeitando o Código de Ética da OAB e sempre priorizando o bem coletivo em detrimento dos interesses individuais.
2. Equilíbrio entre Advocacia e Gestão
Outro grande desafio para quem almeja liderar a OAB é equilibrar a carreira de advocacia com a função de gestão. Os líderes da OAB precisam lidar com as responsabilidades de seus próprios escritórios ou carreiras jurídicas, ao mesmo tempo que se dedicam a liderar uma instituição de grande porte, que demanda atenção constante.
O exercício da advocacia já é, por si só, uma profissão exigente, que requer dedicação total. No entanto, ao assumir uma posição de liderança na OAB, o profissional precisa aprender a delegar, gerenciar equipes e otimizar seu tempo. Saber equilibrar as demandas da profissão com as responsabilidades administrativas e institucionais é uma habilidade crucial para que a liderança seja eficiente.
3. Conquista de Apoio e Legitimidade na Classe
Tornar-se um líder na OAB não depende apenas de mérito pessoal, mas também da capacidade de conquistar apoio de outros advogados e advogadas. Em muitos casos, os processos de eleição para cargos de liderança na OAB envolvem disputas eleitorais, onde o candidato precisa convencer seus pares de que é a melhor escolha para representar a classe.
Conquistar legitimidade na OAB exige habilidades políticas, um profundo entendimento das necessidades da advocacia e, principalmente, a construção de um relacionamento de confiança com os demais advogados. Um líder precisa ser alguém que inspire e una, sendo capaz de promover diálogos, mediar conflitos e criar consensos.
Além disso, a liderança na OAB não pode ser vista como um trampolim político, mas como uma oportunidade para fazer a diferença na profissão. Quem se candidata a esses cargos deve ser movido pelo desejo de promover o bem comum, e não por interesses pessoais.
4. Lidar com Pressões Externas e Internas
Os líderes da OAB enfrentam pressões de várias fontes. Internamente, há a responsabilidade de atender às demandas dos advogados, proteger suas prerrogativas e lutar por melhores condições de trabalho. Externamente, há a pressão da sociedade, das instituições judiciais e do governo, que frequentemente esperam que a OAB atue em defesa do Estado Democrático de Direito, dos direitos humanos e da justiça social.
Saber como lidar com essas pressões, muitas vezes conflitantes, é um dos maiores desafios dos líderes da OAB. Eles precisam agir com sabedoria e discernimento para tomar decisões que sejam ao mesmo tempo justas e equilibradas, sempre pautadas pelos princípios da advocacia e da justiça.
5. Promover a Inclusão e a Diversidade
Outro grande desafio dos líderes da OAB é promover a inclusão e a diversidade dentro da própria instituição. A advocacia, por muitos anos, foi dominada por uma elite masculina, mas, com o passar do tempo, a participação de mulheres e advogados de diversas origens sociais e étnicas tem crescido. No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir que a OAB seja realmente representativa de toda a sociedade.
Líderes da OAB têm a responsabilidade de garantir que todas as vozes sejam ouvidas, promovendo a equidade de gênero, raça e orientação sexual dentro da instituição. Isso significa criar políticas e programas que incentivem a participação de advogados de grupos historicamente marginalizados, garantindo que a OAB seja uma instituição inclusiva e justa.
Conclusão
Os desafios para advogados e advogadas que almejam a liderança na OAB são muitos e complexos. Exigem não apenas competência técnica e ética, mas também habilidades de gestão, comunicação, articulação política e uma visão estratégica para o futuro da advocacia. No entanto, aqueles que conseguem superar esses desafios têm a oportunidade única de deixar um legado na profissão, promovendo mudanças que beneficiarão toda a classe e a sociedade.
A liderança na OAB é, antes de tudo, um compromisso com a advocacia e a justiça, e os advogados que escolhem trilhar esse caminho devem estar prontos para enfrentar as dificuldades com resiliência, integridade e um profundo senso de responsabilidade.
Esdras Dantas é advogado, professor de Direito, membro nato da OAB/DF (ex-presidnte), foi conselheiro federal e diretor da OAB Nacional. Hoje ocupa o cargo de presidente da Assocaição Brasileira de Advogados (ABA)