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Saúde Precarizada e Pressão sobre o SUS: Uma Crise que Impacta a Todos

Por Dante Navarro

O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta hoje um cenário preocupante: a média de apenas 1,5 leito por mil nascimentos está muito abaixo das recomendações mínimas, especialmente no âmbito da UTI neonatal. Um estudo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira aponta a necessidade de adicionar cerca de 1.500 leitos para atender adequadamente recém-nascidos vulneráveis. Paralelamente, o país perdeu cerca de 25 mil leitos de internação do SUS entre 2010 e 2023, o que equivale a um fechamento de cinco leitos por dia em apenas treze anos. Esse quadro resulta em longas filas para consultas, demora no acesso a cirurgias eletivas e restrições no atendimento de emergência, evidenciando uma fragilidade crônica que atinge toda a população.

Causas Estruturais e Consequências Sociais

A queda expressiva no número de leitos está associada a fatores como a estagnação de investimentos públicos, o déficit de profissionais especializados e a crise organizacional que afeta hospitais. Dados do Conselho Federal de Medicina indicam que uma em cada três vagas de internação pertence a capitais — o que dificulta ainda mais o acesso no interior do País. O resultado é um aumento expressivo na vaga de espera por cirurgias eletivas e no risco de complicações clínicas, especialmente entre crianças, idosos e pacientes com doenças crônicas. Adicionalmente, a falta de estrutura afeta o atendimento materno-infantil, mesmo com programas como a Rede Cegonha tentando ampliar o pré-natal, leitos neonatais e partos humanizados.

Impacto na População e Saúde Pública

A precarização do SUS agrava a vulnerabilidade das camadas mais pobres, que não têm acesso a alternativas privadas de saúde. Como aponta a análise sobre desigualdades em saúde, as barreiras geográficas, financeiras, organizacionais e informacionais criam obstáculos reais no acesso à saúde de qualidade. As filas e a falta de leitos impactam mentalmente os pacientes e podem contribuir para o aumento de taxas de mortalidade, além de gerar incerteza em momentos críticos de vida — como gravidezes de risco, emergências pediátricas e procedimentos cirúrgicos necessários. A estagnação orçamentária e a redução constante de leitos sugerem que, sem mudanças estruturais, o SUS continuará sobrecarregado e incapaz de garantir cobertura plena.

Desafios e Possíveis Soluções

Especialistas em saúde pública defendem medidas urgentes para reverter esse quadro:

  1. Revisão e atualização do investimento em saúde, com foco no financiamento equilibrado entre atenção primária e internação hospitalar;
  2. Reabertura de leitos e revitalização de hospitais públicos, priorizando regiões com déficit crônico;
  3. Fortalecimento da Rede Cegonha, assegurando acesso qualificado ao parto e suporte neonatal;
  4. Adoção de telemedicina e agendamento eletrônico, para reduzir filas e otimizar fluxos;
  5. Fomento à regionalização da saúde, descentralizando e adequando serviços conforme demanda local.

A crise do SUS não é apenas um problema setorial, mas um desafio nacional que demanda vontade política, participação social e estratégias integradas. A retomada de leitos, o investimento contínuo e a gestão eficiente serão fundamentais para garantir à população brasileira o direito à saúde — previsto na Constituição como dever do Estado.

 

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