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Violência contra a mulher avança no Brasil e expõe uma crise estrutural que exige respostas urgentes

Com números alarmantes de agressões físicas e mortes, o país enfrenta uma realidade que gera medo cotidiano entre mulheres e desafia o Estado, a sociedade e as instituições a agir com firmeza, prevenção e responsabilidade.

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O Brasil assiste, estarrecido, ao avanço contínuo da violência contra a mulher. A cada semana, novos casos de agressões físicas, ameaças e mortes ganham espaço no noticiário, revelando uma realidade que ultrapassa estatísticas e alcança o cotidiano de milhões de brasileiras. Mulheres de diferentes idades, classes sociais e regiões vivem sob o impacto do medo — medo de sair de casa, de terminar um relacionamento, de denunciar, de não sobreviver.

Dados oficiais e estudos de organismos nacionais e internacionais apontam que o país figura entre aqueles com maiores índices de violência de gênero, especialmente no contexto doméstico e familiar. Trata-se de um problema estrutural, alimentado por fatores culturais, sociais e institucionais, que exige respostas urgentes e integradas. Este artigo busca apresentar as dores vividas pelas mulheres, as consequências dessas agressões e caminhos possíveis para enfrentar o problema, com o apoio de entidades da sociedade civil, como a Associação Brasileira de Advogados (ABA), que reúne em seus quadros um número expressivo de mulheres comprometidas com a defesa de direitos.


A dor invisível: o medo cotidiano e a violência que começa dentro de casa

A violência contra a mulher raramente surge de forma abrupta. Em muitos casos, ela se instala gradualmente, com controle psicológico, ciúmes excessivos, humilhações e isolamento social, até evoluir para agressões físicas e, em situações extremas, para o feminicídio. Esse ciclo, conhecido por especialistas, aprisiona vítimas em relações marcadas por medo e dependência.

As dores dessas mulheres não se limitam às marcas no corpo. Há impactos profundos na saúde mental, como ansiedade, depressão, transtornos do sono e estresse pós-traumático. Muitas vítimas relatam a sensação constante de vigilância e ameaça, mesmo após a separação do agressor. O medo passa a orientar decisões simples do dia a dia, como o trajeto até o trabalho ou o horário de retorno para casa.

Outro aspecto recorrente é o silêncio imposto. Mulheres deixam de denunciar por receio de represálias, por desconfiança nas instituições ou por pressão familiar e econômica. Em contextos onde o agressor é o provedor financeiro, a ruptura do vínculo pode significar insegurança material para a vítima e seus filhos. Esse cenário evidencia que a violência de gênero não é apenas um ato individual, mas um fenômeno social que se reproduz em ambientes de desigualdade e impunidade.


Consequências sociais e institucionais: quando a violência afeta toda a sociedade

As consequências da violência contra a mulher extrapolam o âmbito privado e alcançam a sociedade como um todo. Crianças que crescem em lares violentos apresentam maior risco de evasão escolar, problemas emocionais e reprodução de padrões agressivos na vida adulta. O sistema de saúde é sobrecarregado por atendimentos emergenciais e tratamentos de longo prazo decorrentes das agressões.

No campo institucional, a violência de gênero desafia o sistema de Justiça. Embora o Brasil possua legislação específica, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio, a efetividade das normas depende de estrutura adequada, capacitação contínua e atuação integrada entre Judiciário, Ministério Público, Defensoria, forças de segurança e rede de proteção social.

A Associação Brasileira de Advogados (ABA) tem papel relevante nesse debate. Com um número elevado de mulheres entre seus associados, a entidade atua na promoção de debates, capacitações e ações de conscientização voltadas à proteção de direitos e à dignidade feminina. Para o presidente da ABA, Esdras Dantas de Souza, o enfrentamento da violência exige compromisso institucional e mudança cultural:

“A violência contra a mulher é uma afronta à dignidade humana e à própria democracia. A ABA se posiciona de forma firme ao lado das mulheres, defendendo políticas públicas eficazes, a aplicação rigorosa da lei e a construção de uma cultura de respeito. Não se trata apenas de punir, mas de prevenir e proteger.”

A fala reforça a necessidade de ações coordenadas e contínuas, capazes de interromper o ciclo de violência antes que ele resulte em tragédias irreversíveis.


Caminhos e soluções: prevenção, proteção e mudança cultural

Enfrentar a violência contra a mulher exige um conjunto de soluções estruturais. A primeira delas é a prevenção, com investimentos em educação para a igualdade de gênero desde a infância, campanhas permanentes de conscientização e formação de profissionais para identificar sinais precoces de violência.

A proteção às vítimas deve ser fortalecida por meio da ampliação de casas-abrigo, do acesso rápido a medidas protetivas e da integração entre sistemas de denúncia e atendimento, garantindo resposta ágil e segura. Tecnologias de monitoramento de agressores e canais acessíveis de comunicação com o poder público também são ferramentas importantes.

No âmbito jurídico, é fundamental assegurar a aplicação efetiva das leis, com celeridade processual e responsabilização adequada dos agressores. A advocacia, a magistratura e o Ministério Público têm papel central na condução de processos sensíveis, que exigem escuta qualificada e abordagem humanizada.

Por fim, a mudança cultural é o eixo mais desafiador e necessário. Combater a ideia de posse e controle sobre a mulher passa por questionar padrões machistas e promover relações baseadas em respeito e igualdade. Instituições como a ABA, ao reunir profissionais comprometidos com a ética e os direitos humanos, contribuem para esse processo ao ampliar o debate público e incentivar práticas transformadoras.


Conclusão

O aumento das agressões físicas e das mortes de mulheres no Brasil é um alerta que não pode ser ignorado. Trata-se de uma crise que revela falhas estruturais e impõe a responsabilidade coletiva de agir. Ouvir as dores das vítimas, compreender as consequências sociais e implementar soluções efetivas são passos indispensáveis para reverter esse cenário.

A participação ativa de entidades da sociedade civil, do Estado e das instituições jurídicas é fundamental para construir um ambiente seguro e justo para as mulheres. Como destacou a ABA, proteger a vida e a dignidade feminina é um compromisso que ultrapassa discursos e exige ações concretas e permanentes.

O enfrentamento da violência contra a mulher é um dever de todos. Informar, denunciar, proteger e educar são caminhos possíveis — e urgentes — para transformar uma realidade que já custou vidas demais.

Por Dante Navarro

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