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PF aponta uso de recursos desviados para construção de pousada de luxo no Tocantins

Investigação indica que valores durante a pandemia de Covid-19 teriam sido destinados ao empreendimento em nome do filho do governador afastado, Wanderlei Barbosa

A Polícia Federal (PF) apresentou, nesta semana, novos desdobramentos de uma investigação que apura desvios de recursos públicos no estado do Tocantins. Segundo os investigadores, parte do dinheiro obtido de forma irregular durante a pandemia de Covid-19 teria sido utilizada para financiar a construção de uma pousada de luxo localizada na Serra de Taquaruçu, distrito da capital Palmas. O empreendimento está registrado em nome de Rérison Antônio Castro Leite, filho do governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos).

De acordo com a PF, o montante identificado até o momento chega a R$ 2,4 milhões, valor supostamente destinado ao projeto entre junho de 2022 e julho de 2024.

A investigação sobre o suposto esquema de desvios

O caso ganhou destaque nacional após operação da Polícia Federal que levou ao afastamento do governador Wanderlei Barbosa, por determinação do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O afastamento, válido por seis meses, ainda será analisado pelos demais ministros da Corte.

As apurações da PF indicam que os desvios ocorreram em contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, financiados por emendas parlamentares entre 2020 e 2021. Segundo os investigadores, os contratos foram realizados em meio ao estado de emergência de saúde pública, o que permitiu a dispensa de licitação. O valor global dos contratos investigados chega a aproximadamente R$ 5 milhões.

Apesar do pagamento, há suspeitas de que parte dos alimentos contratados não tenha sido efetivamente entregue à população. A investigação também aponta que os recursos desviados teriam sido ocultados em diferentes ativos, como empreendimentos de luxo, aquisição de gado e despesas pessoais.

O empreendimento e a ligação com os recursos

A Pousada Pedra Canga, objeto central das suspeitas, está situada na Serra de Taquaruçu, região turística conhecida pela natureza preservada e cachoeiras. De acordo com o relatório da PF, “foi constatado o direcionamento de grandes somas de recursos para a construção” do empreendimento.

As investigações sugerem que o governador Wanderlei Barbosa teria utilizado o nome de seu filho para ocultar a verdadeira origem do capital. Em diálogos interceptados, consta a afirmação de que o próprio governador não queria que nada estivesse formalmente em seu nome.

O relatório da PF ainda destaca que o balanço financeiro da pousada passou a registrar os aportes como investimentos de “Investidor-Anjo”, conceito utilizado em direito empresarial para classificar aportes em empresas em fase inicial em troca de futura participação societária. Para os investigadores, esse procedimento teria sido utilizado como justificativa para o fluxo de capital.

Os repasses teriam ocorrido entre 21 de junho de 2022 e 30 de julho de 2024, totalizando R$ 2,4 milhões. As investigações seguem em curso para identificar o destino de outros valores e eventuais novos envolvidos.

A posição do governador afastado

Em nota oficial, o governador Wanderlei Barbosa afirmou que respeita a decisão do Superior Tribunal de Justiça, mas classificou a medida como “precipitada”. Ele destacou que os contratos sob investigação foram firmados entre 2020 e 2021, quando ainda ocupava o cargo de vice-governador, e não era responsável direto pela ordenação de despesas.

“Recebo a decisão do STJ com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte”, declarou.

O governador afirmou ainda ter determinado auditorias pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e pela Controladoria-Geral do Estado (CGE), encaminhando integralmente as informações às autoridades competentes. Ele também anunciou que recorrerá da decisão e buscará reassumir o cargo, afirmando que pretende “comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população”.

Conclusão

O caso envolvendo os desvios de recursos no Tocantins e a construção da pousada de luxo segue em investigação pela Polícia Federal, com acompanhamento do Superior Tribunal de Justiça. O afastamento do governador Wanderlei Barbosa reforça a gravidade das acusações e traz repercussões políticas e jurídicas no estado.

Enquanto os desdobramentos se desenrolam, a população aguarda esclarecimentos sobre a destinação dos recursos públicos durante a pandemia e as possíveis responsabilidades dos envolvidos. O andamento do processo no STJ será determinante para definir os próximos passos e eventuais consequências legais para os investigados.

 

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