Deputado do Rio de Janeiro é preso em operação contra facção criminosa
Parlamentar conhecido por fornecer joias a celebridades é acusado de ligação com o tráfico e lavagem de dinheiro

A segurança pública no Rio de Janeiro voltou ao centro das atenções nesta quarta-feira (3), quando o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias (MDB-RJ), foi preso durante uma megaoperação realizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona Oeste da capital fluminense.
O parlamentar, famoso por fornecer joias de ouro e diamantes a celebridades como Neymar, Vinicius Jr., Ludmilla e Deolane Bezerra, é acusado de ligação com o Comando Vermelho (CV), uma das principais facções criminosas do país. Segundo as investigações, ele teria usado o mandato parlamentar para intermediar negócios ilícitos e nomear pessoas ligadas ao crime organizado para cargos públicos.
A operação foi conduzida pela Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Polícia Civil do Rio de Janeiro, em cumprimento a 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão em diferentes bairros da cidade, incluindo Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana.
Esquema criminoso e acusações contra o deputado
De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o deputado estadual é acusado de atuar como intermediário em negociações envolvendo tráfico de drogas, comércio ilegal de armas de uso restrito e aquisição de equipamentos antidrones para grupos criminosos.
Além disso, as investigações apontam que TH Joias nomeava comparsas e familiares de criminosos para cargos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), fortalecendo sua rede de influência política. O esquema teria beneficiado comunidades controladas pelo Comando Vermelho, ampliando o poder da facção.
As autoridades também identificaram movimentações financeiras suspeitas, repasses em espécie e a utilização de empresas de fachada para lavagem de dinheiro, o que reforça as acusações de ligação direta entre o deputado e o crime organizado.
Entre os presos durante a operação estão:
- Luiz Eduardo Cunha, assessor do deputado;
- Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, apontado como traficante de Duque de Caxias;
- Além de lideranças conhecidas como Luciano Martiniano da Silva (Pezão), Edgar Alves de Andrade (Doca) e Manoel Cinquine Pereira (Paulista).
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou ainda o sequestro de bens e valores que totalizam aproximadamente R$ 40 milhões, além do afastamento de agentes públicos e da transferência de lideranças criminosas para presídios federais de segurança máxima.
Repercussão política e consequências
A prisão do parlamentar repercutiu fortemente no meio político. Em nota oficial, o presidente do diretório regional do MDB, Washington Reis, informou que TH Joias foi expulso do partido, alegando que ele já não seguia a orientação da legenda em seus posicionamentos e votações na Assembleia Legislativa.
Até o momento, a Alerj não se manifestou sobre o caso ou sobre eventuais medidas administrativas relacionadas ao mandato do deputado.
A trajetória política de Tiego Raimundo dos Santos Silva teve início em 2022, quando obteve 15.105 votos e assumiu como suplente. Em 2024, com a morte do titular, herdou definitivamente a cadeira na Assembleia Legislativa, após conseguir recorrer em liberdade de uma condenação anterior.
É importante lembrar que o parlamentar já havia sido preso entre 2017 e 2018 por suspeita de tráfico de drogas e armas, pagamento de propina a policiais e fornecimento de informações a traficantes. Em 2022, chegou a ser condenado a 14 anos de prisão.
A prisão atual reacende o debate sobre a infiltração do crime organizado na política brasileira, a vulnerabilidade das instituições e a necessidade de mecanismos mais eficazes de fiscalização.
Celebridades, joias e a construção da imagem pública
Antes de entrar para a política, TH Joias era conhecido no mundo das celebridades como empresário do ramo de luxo. Ele se destacou fornecendo joias de ouro e diamantes para artistas e atletas, entre eles MC Poze, Neymar, Vinicius Jr., Ludmilla e Deolane Bezerra.
Essa exposição no cenário artístico ajudou a consolidar sua imagem pública e a abrir portas para sua carreira política. Entretanto, as investigações indicam que parte desse prestígio teria sido utilizada para encobrir atividades criminosas e fortalecer sua ligação com diferentes facções, como o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP) e a facção Amigo dos Amigos (ADA).
Para especialistas em segurança pública, esse caso ilustra como a mistura entre fama, poder político e crime organizado pode criar redes de influência capazes de dificultar o combate ao tráfico e à lavagem de dinheiro no Brasil.
Conclusão
A prisão de TH Joias representa mais um episódio da complexa relação entre o crime organizado e a política no Brasil. O caso revela a necessidade de fortalecer os mecanismos de controle, de garantir maior transparência na vida pública e de combater de forma integrada o avanço das facções criminosas.
As investigações seguem em andamento e devem trazer novos desdobramentos nos próximos meses. Enquanto isso, o episódio reforça a importância de vigilância constante da sociedade e das instituições no enfrentamento ao crime.
Imagem é uma reprodução da internet