Escândalo de áudios e denúncias de corrupção abala governo de Javier Milei
Acusações contra Karina Milei e ação judicial do governo argentino marcam crise política em meio ao período eleitoral

O governo da Argentina enfrenta uma das maiores crises desde a posse do presidente Javier Milei. O episódio teve início com a divulgação de áudios que citam a irmã do presidente, Karina Milei, em um suposto esquema de propina. A polêmica levou a uma reação imediata do governo, que ingressou com ação judicial alegando tratar-se de uma “operação ilegal de inteligência” com o objetivo de desestabilizar o país em plena campanha eleitoral.
Segundo nota divulgada pelo porta-voz presidencial, Manuel Adorni, as conversas teriam sido gravadas de forma clandestina, manipuladas e divulgadas para prejudicar a gestão de Milei. O presidente, por sua vez, saiu em defesa da irmã e classificou as acusações como “mentirosas”, reforçando que o caso será levado à Justiça.
A origem do escândalo e as acusações contra Karina Milei
O caso ganhou força na semana passada, quando a imprensa argentina revelou áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis). Nas gravações, ele acusa Karina Milei, secretária-geral da Presidência, e Eduardo “Lule” Menem, subsecretário de gestão institucional, de cobrarem propina de empresas farmacêuticas. O objetivo seria favorecer a compra de medicamentos destinados à rede pública de saúde.
Spagnuolo afirma possuir conversas privadas no WhatsApp que comprovariam a prática irregular. “Estão roubando. Você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApp de Karina”, teria declarado no áudio. Após a revelação, ele foi demitido do cargo no dia seguinte, intensificando ainda mais as suspeitas de interferência política no caso.
Karina Milei, considerada braço direito do irmão e uma das figuras mais influentes do governo, passou a ser o centro das atenções. A repercussão das denúncias rapidamente ganhou destaque nacional e internacional, colocando em xeque a imagem de austeridade defendida por Javier Milei durante sua campanha presidencial.
A resposta do governo e a defesa de Javier Milei
Nos primeiros dias após o vazamento, o presidente argentino optou pelo silêncio público. No entanto, diante da pressão política e midiática, Milei fez aparições ao lado da irmã e defendeu sua integridade. Em entrevista ao canal argentino C5N, afirmou que “tudo o que está sendo dito é mentira” e garantiu que os responsáveis pelas denúncias responderão judicialmente.
O porta-voz Manuel Adorni reforçou essa posição ao anunciar que o governo acionou a Justiça Federal. Na nota, descreveu o episódio não como um simples vazamento, mas como um ataque planejado, com a finalidade de “desestabilizar o país em pleno processo eleitoral”.
A estratégia de Milei busca deslegitimar as acusações e transferir o foco para a suposta manipulação das provas. Contudo, especialistas em ciência política alertam que, independentemente da autenticidade dos áudios, o episódio já trouxe desgaste irreversível para o governo, em especial para Karina Milei.
Impactos políticos e risco à governabilidade
A crise surge em um momento delicado para a gestão de Javier Milei. Faltando duas semanas para as eleições na província de Buenos Aires e dois meses para o pleito legislativo nacional, o episódio ameaça influenciar diretamente os resultados. Pesquisas de opinião já indicavam queda na aprovação presidencial antes do escândalo, e o impacto tende a ser ainda maior com as recentes revelações.
Além do desgaste político, a situação interna no governo argentino apresenta sinais de instabilidade. Os áudios expuseram rachas entre aliados de Milei, fortalecendo a narrativa de que setores internos podem estar contribuindo para o enfraquecimento da gestão. A oposição, por sua vez, intensificou as críticas e exige explicações formais sobre as acusações de corrupção.
A situação escalou ainda mais nesta quarta-feira (27), quando o presidente foi alvo de um ataque durante uma carreata em Buenos Aires. Milei precisou ser retirado às pressas do local, em um episódio que reforça o clima de tensão política e social no país.
Analistas afirmam que a governabilidade de Milei dependerá da capacidade de conter a crise e de manter apoio parlamentar para aprovar projetos de interesse do governo. Entretanto, com a popularidade em queda e acusações atingindo diretamente sua família, a tarefa se torna mais difícil.
Considerações finais
O escândalo envolvendo Karina Milei revela como acusações de corrupção podem impactar não apenas a imagem de membros do governo, mas também a própria estabilidade institucional de um país. Ao mesmo tempo em que o presidente Javier Milei tenta desqualificar as denúncias e transferir a narrativa para um suposto ataque externo, a repercussão pública segue ampliando a pressão sobre sua administração.
Com eleições provinciais e legislativas próximas, o desfecho do caso terá influência direta no futuro político do governo argentino. Se confirmado como um episódio de manipulação, pode reforçar a imagem de Milei como vítima de ataques orquestrados. Se, por outro lado, houver comprovação das acusações, o impacto pode comprometer seriamente sua governabilidade.
A Argentina, assim, se vê diante de um momento decisivo, no qual a transparência, a investigação judicial e a resposta institucional definirão os rumos da atual gestão e a confiança da população em suas lideranças.