
Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelou que o crime organizado no Brasil obtém maior receita com a venda ilegal de combustíveis, bebidas, cigarros e ouro do que com o tráfico de cocaína. Segundo o relatório, a receita anual dessas atividades ilícitas superou R$ 146 bilhões a partir de 2022, enquanto o tráfico da droga movimentou R$ 15 bilhões no mesmo período.
O Mercado Ilegal de Combustíveis
O setor de combustíveis desponta como a principal fonte de lucro para o crime organizado, com uma receita estimada em R$ 61,5 bilhões anuais, o que representa 41,8% do faturamento das organizações criminosas. De acordo com o estudo, aproximadamente 13 bilhões de litros de combustíveis são comercializados ilegalmente a cada ano, gerando uma perda fiscal de R$ 23 bilhões.
Os principais esquemas ilícitos nesse setor incluem adulteração de combustíveis, roubo de cargas e dutos, fraudes em operações interestaduais, venda sem emissão de nota fiscal e postos clandestinos. A falta de um sistema nacional integrado de rastreamento tem sido um fator que dificulta o combate a essas atividades.
Contrabando e Falsificação de Bebidas
Outro segmento altamente lucrativo para as organizações criminosas é o de bebidas falsificadas e contrabandeadas, que responde por 38,8% da receita total. Apenas em 2022, o contrabando de bebidas gerou R$ 72 bilhões em perdas tributárias para o país. A venda de produtos sem procedência e a falsificação de bebidas alcoólicas representam riscos não apenas econômicos, mas também à saúde pública.
Extração Ilegal de Ouro e Comércio de Tabaco
A exploração ilegal de ouro no Brasil representa 12,4% da receita do crime organizado, com um faturamento estimado de R$ 18,2 bilhões anuais. A mineração clandestina tem impactos ambientais severos, incluindo desmatamento e contaminação de rios por mercúrio.
Já o mercado ilegal de tabaco representa aproximadamente 40% do consumo nacional, acumulando prejuízos fiscais superiores a R$ 94 bilhões nos últimos 11 anos. O contrabando de cigarros, em grande parte proveniente do Paraguai, se consolidou como um dos principais desafios para o controle da arrecadação tributária no setor.
O Papel do Estado e Medidas Necessárias
O relatório do FBSP destaca que o crime organizado se beneficia de falhas na fiscalização e controle estatal. A ausência de um sistema de rastreamento eficiente, a corrupção em alguns setores e a falta de fiscalização adequada contribuem para a expansão dessas atividades ilícitas.
Diante desse cenário, especialistas apontam que uma resposta coordenada entre o Estado e o setor produtivo é essencial para reduzir o impacto econômico, social e ambiental do mercado ilegal. Medidas como o aprimoramento da fiscalização, o fortalecimento das fronteiras, a modernização de sistemas de rastreamento e a implementação de penas mais severas para crimes econômicos são algumas das iniciativas que podem contribuir para conter essa expansão.
A criminalidade organizada no Brasil demonstra sua capacidade de diversificação e adaptação, explorando vulnerabilidades econômicas e regulatórias para maximizar seus lucros. Enquanto a repressão ao tráfico de drogas continua sendo uma prioridade, torna-se cada vez mais necessário ampliar os esforços para combater outras fontes de financiamento dessas organizações.