Os Estados Unidos são frequentemente chamados de “a maior democracia do mundo”, mas seu sistema eleitoral desperta curiosidade e, muitas vezes, confusão, especialmente para brasileiros, acostumados ao voto direto. Nos EUA, o presidente não é escolhido diretamente pelo voto popular, e o vencedor nem sempre é o candidato com a maioria dos votos. Esse sistema peculiar desafia o entendimento de muitos, principalmente de quem cresceu com o lema das “Diretas Já” na luta pela democracia. Mas afinal, por que o processo eleitoral norte-americano é assim, e como ele funciona?
A democracia norte-americana, embora sem voto direto para presidente, é composta de outras instituições que garantem a liberdade e os direitos do cidadão, como o Judiciário independente e o direito ao voto. No entanto, o sistema eleitoral dos EUA enfrenta críticas, especialmente por sua natureza descentralizada e complexa. Como explica o pesquisador Roberto Goulart Menezes, enquanto o Brasil tem um Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que centraliza as eleições, os Estados Unidos deixam a organização do processo para cada estado, o que gera algumas particularidades e problemas locais.
Esse modelo remonta à época da formação dos EUA, quando se buscava evitar líderes populistas e valorizar candidatos com experiência política. Os delegados, que representam os eleitores no Colégio Eleitoral, são vistos como um filtro contra propostas demagógicas. Ainda assim, algumas leis estaduais podem ser consideradas problemáticas, como na Geórgia, onde certas condenações na Justiça retiram o direito ao voto de parte da população negra e latina, refletindo questões históricas e sociais ainda presentes no sistema eleitoral norte-americano.
Imagine o impacto desse sistema na política e na sociedade. Nos Estados Unidos, os eleitores não votam diretamente no presidente, mas em delegados que representarão seus votos. Esse Colégio Eleitoral, composto por 538 delegados distribuídos proporcionalmente aos estados pela população, é o que decide o presidente. Além disso, a maioria dos estados adota o sistema “the winner takes it all” (o vencedor leva tudo), em que o candidato que ganha em um estado leva todos os delegados daquele estado. Esse mecanismo, embora estratégico, permite que um candidato menos votado nacionalmente possa ganhar, como aconteceu em 2016, quando Donald Trump foi eleito, apesar de Hillary Clinton ter recebido quase três milhões de votos a mais.
Outro detalhe interessante são os swing states, ou “estados pêndulo”. São estados sem maioria partidária definida, que se tornam o principal foco das campanhas eleitorais, já que podem decidir a eleição. Além disso, alguns estados permitem o voto antecipado e até o voto pelo correio, ampliando a participação dos eleitores, mas também gerando debates e, ocasionalmente, desinformação.
Compreender o sistema eleitoral norte-americano é essencial para entender como a política e as decisões dos Estados Unidos influenciam o mundo. Esse processo complexo reflete a história e a diversidade do país, mas também seus desafios. É uma oportunidade para refletirmos sobre diferentes sistemas democráticos e suas adaptações aos contextos históricos e culturais de cada país. Ao analisar a complexidade e os debates que envolvem o modelo dos EUA, podemos desenvolver uma visão mais crítica e ampla sobre o que caracteriza uma democracia e sobre as diversas maneiras de construir processos eleitorais em diferentes contextos.
O sistema norte-americano pode parecer complicado, mas ele serve como um lembrete de que as democracias ao redor do mundo se adaptam a suas realidades. Entender essas diferenças nos ajuda a valorizar a diversidade dos processos democráticos e a refletir sobre o que é importante para uma eleição justa e representativa. Afinal, cada modelo tem suas particularidades e seu impacto na sociedade, e, para quem está atento aos rumos da política global, compreender o processo eleitoral dos Estados Unidos é essencial.
