A violência doméstica é uma realidade triste e assustadora que afeta inúmeras mulheres em nosso país. A cada dia, essas vítimas corajosas lutam não apenas contra seus agressores, mas também contra as barreiras sociais e econômicas que muitas vezes as mantêm reféns de relacionamentos abusivos. É um problema profundamente enraizado em nossa sociedade, mas um novo horizonte de esperança está surgindo com a implementação de uma lei federal que concede auxílio-aluguel a mulheres vítimas de violência doméstica por até seis meses.
Como presidente da Associação Brasileira de Advogados, tenho o privilégio de ver em primeira mão o impacto positivo que essa nova lei está tendo nas vidas das mulheres que enfrentam a violência em seus lares. Esta medida representa uma mudança significativa em nossa abordagem à proteção das vítimas, oferecendo-lhes uma chance real de escapar de ambientes violentos e reconstruir suas vidas.
A realidade é que muitas mulheres continuam a viver com seus agressores, não por escolha, mas por falta de alternativas seguras e recursos financeiros. A violência doméstica não conhece fronteiras geográficas, afetando mulheres de todas as classes sociais, idades e origens. Não é apenas um problema urbano ou rural; é um problema humano que exige uma resposta unificada.
Atualmente, apenas 134 municípios em todo o Brasil têm abrigos especializados para mulheres vítimas de violência doméstica. Embora esses abrigos desempenhem um papel vital na proteção das vítimas, sua capacidade é limitada, e nem todas as mulheres têm acesso a eles. É aqui que a nova lei entra em cena, oferecendo um auxílio financeiro que pode ser a diferença entre permanecer em um relacionamento abusivo e buscar uma vida livre de violência.
Exemplos como o programa em Belo Horizonte, que oferece auxílio-aluguel de até R$ 500 a mulheres cadastradas em centros de atendimento especializado, mostram como essa iniciativa já está fazendo a diferença. Outros estados, como Mato Grosso, São Paulo, Fortaleza e Teresópolis, também estão adotando medidas semelhantes para apoiar as vítimas.
Além de fornecer assistência direta às mulheres, essa lei também pode ter um impacto positivo na redução dos casos de violência doméstica. As estatísticas são alarmantes: mais de 245 mil agressões domésticas foram registradas apenas em 2022, e o número de feminicídios atingiu um recorde perturbador. Esta é uma situação que exige uma abordagem multifacetada, e o auxílio-aluguel é um passo significativo na direção certa.
Para que essa iniciativa seja bem-sucedida, é essencial que os estados, municípios e o Distrito Federal se comprometam a financiar esses aluguéis com recursos originalmente destinados à assistência social para pessoas em situação de vulnerabilidade temporária. É um investimento não apenas na segurança das mulheres, mas também na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Como advogado e professor, estou convencido de que o acesso a recursos como o auxílio-aluguel pode empoderar as mulheres, permitindo que tomem decisões sobre suas vidas e sua segurança. Não devemos subestimar o impacto que isso pode ter na prevenção da violência e na proteção das mulheres em nosso país.
Estamos no caminho certo, mas ainda há muito a ser feito. O Ministério das Mulheres está trabalhando em estreita colaboração com outros órgãos governamentais para implementar efetivamente essa lei, definindo os parâmetros, prazos e alocando recursos necessários.
A nova lei de auxílio-aluguel para mulheres vítimas de violência doméstica é um passo crucial na direção da proteção e empoderamento das mulheres no Brasil. À medida que continuamos a lutar contra a violência doméstica, esta medida oferece uma luz no fim do túnel e um vislumbre de um futuro onde todas as mulheres possam viver livres de medo e abuso. É um momento para celebrar, mas também para lembrar que nossa luta pela igualdade e segurança das mulheres está longe de terminar.
Esdras Dantas de Souza é advogado, professor, foi presidente da OAB/DF, diretor do Conselho Federal da OAB, conselheiro do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), desembargador do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal e atualmente é o presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA)